As rodovias brasileiras continuam, em inúmeros trechos, a exibir um retrato preocupante: pavimento esburacado, sinalização apagada ou ausente e longos trechos sem fiscalização eficaz. Esse conjunto de fatores, somado à imprudência ao volante, transforma estradas em cenários recorrentes de tragédias que dilaceram famílias inteiras. Semana após semana, manchetes relatam colisões, capotamentos e atropelamentos que poderiam ter sido evitados — lembrando, com insistência cruel, que o trânsito no país segue matando e ceifando, muitas vezes, vidas demasiado jovens.
Foi exatamente esse o quadro vivido na manhã de sexta‑feira, 16 de maio, na BR‑293, rodovia que corta a região da Campanha gaúcha. Nas proximidades de Sant’Ana do Livramento, um violento capotamento pôs fim aos sonhos de duas crianças: Maria Sophia Dumoncel, de 16 anos, e o irmão Arthur Dumoncel, de apenas 9 anos. Os dois eram enteados da filha do técnico do Grêmio, Mano Menezes, e viajavam em um Chevrolet Corsa que, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), perdeu o controle em uma curva, saiu da pista e capotou à margem da estrada.
A tragédia não se limitou às duas crianças. No mesmo automóvel encontrava‑se um homem de 42 anos que, embora tenha sido retirado com vida pelos bombeiros e encaminhado ao hospital local, não resistiu aos ferimentos e veio a óbito horas depois.
Outros dois ocupantes — um jovem de 23 anos e o motorista, de 29 — permanecem internados em estado grave na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Santa Casa de Sant’Ana do Livramento, sob cuidados intensivos e monitoramento constante.
A notícia atingiu em cheio a comunidade gremista. Diante da dimensão da perda, a diretoria do Grêmio liberou Mano Menezes de suas atividades imediatas: o treinador não comandará o time na partida contra o São Paulo, marcada para sábado, 17 de maio, pelo Campeonato Brasileiro.
O velório de Maria Sophia e Arthur ocorreu na Capela Municipal de Dom Pedrito, reunindo familiares, amigos, colegas de escola e moradores comovidos.
Em nota oficial, o Grêmio manifestou “profundo pesar” e colocou sua estrutura à disposição da família.
Se por um lado o episódio reacende o debate sobre a urgente necessidade de manutenção de estradas, fiscalização rígida e campanhas permanentes de educação no trânsito, por outro expõe a fragilidade da vida e o vazio que se instala quando a morte se impõe de forma tão abrupta.