Na quinta-feira, 17 de julho, exatamente às 17h10, o voo TP58 da TAP partiu do Aeroporto Internacional de Brasília rumo a Lisboa, levando a bordo o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Aparentemente, uma simples viagem durante o recesso parlamentar. Mas a coincidência temporal — um dia antes da Polícia Federal cumprir mandados contra seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro — fez soar alarmes em Brasília.
O silêncio da assessoria do senador sobre o objetivo da viagem, somado à ausência de explicações públicas, alimentou teorias sobre uma possível manobra preventiva. Com o cerco jurídico se fechando sobre o núcleo bolsonarista, a ausência de Flávio ganhou contornos estratégicos.
Aliados tentaram minimizar, dizendo tratar-se de “agenda pessoal”, mas nos bastidores políticos, poucos compraram essa narrativa.
No ambiente polarizado do país, a resposta veio em ritmo acelerado. O deputado André Janones (Avante-MG), conhecido por seu enfrentamento direto ao bolsonarismo, não poupou palavras: “Mais um covarde foge como um rato para não ser preso!” — escreveu nas redes sociais.
A estratégia de transformar crítica em meme não é nova. Em vez de enfrentar o debate com argumentos, Flávio desvia o foco para o espetáculo da linguagem, apelando para o escárnio.
Enquanto isso, seu irmão, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, continua nos Estados Unidos.
De lá, mantém encontros com figuras da extrema-direita americana, como Steve Bannon e membros do Partido Republicano. Eduardo já afirmou, mais de uma vez, que não pretende voltar ao Brasil “enquanto a liberdade não for restaurada”. A frase, que sugere exílio voluntário, reforça o enredo da vitimização e da perseguição política, usado como escudo ideológico para justificar o afastamento.
O pano de fundo dessa movimentação familiar é a operação mais recente da Polícia Federal, que impôs duras medidas cautelares contra Jair Bolsonaro: tornozeleira eletrônica, proibição de usar redes sociais, recolhimento domiciliar noturno e a apreensão de dinheiro em espécie e dispositivos eletrônicos.
A narrativa de perseguição política vem sendo construída com consistência. O exílio voluntário, ainda que informal, é parte dessa estratégia. Afinal, com Bolsonaro limitado no Brasil, Flávio em Lisboa e Eduardo nos EUA, o clã parece tentar construir um cinturão de proteção internacional — um tabuleiro em que a política interna se mistura com alianças globais.
Por ora, não há mandados contra Flávio nem Eduardo. Mas o comportamento da família tem levantado mais dúvidas do que certezas. Férias ou fuga? Estratégia de defesa ou tentativa de criar um palco internacional de resistência? O tempo — e as investigações — dirão. Mas uma coisa é certa: a ausência física dos filhos de Bolsonaro do país, justamente no momento mais delicado do ex-presidente, não parece mero acaso.