Após prisão de Bolsonaro, Trump manda recado para o Brasil ‘Vocês vão se’…Ver mais

Em um movimento inédito e carregado de tensão diplomática, o Escritório para Assuntos do Hemisfério Ocidental, órgão ligado ao Departamento de Estado dos Estados Unidos, usou a plataforma X (antigo Twitter) para condenar abertamente uma decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e lançar um duro recado ao governo brasileiro.

Na noite desta segunda-feira (4), o órgão acusou Moraes de ser um “violador de direitos humanos” e advertiu que outras autoridades que apoiarem suas decisões poderão enfrentar sanções. A publicação provocou reações imediatas em Brasília e aprofundou o racha institucional em torno do ex-presidente Jair Bolsonaro.

 

A crítica veio após a decisão de Moraes de impor prisão domiciliar a Bolsonaro, sob suspeita de descumprimento de medidas cautelares e tentativa de obstrução de justiça no processo em que é réu por tentativa de golpe de Estado. Além do confinamento, o ministro determinou a apreensão de celulares e proibiu visitas ao ex-presidente, acirrando o embate entre Judiciário e setores conservadores.

A postagem do órgão norte-americano — feita em inglês e em português — classificou a decisão como autoritária e antidemocrática, afirmando que a imposição de novas restrições a Bolsonaro “não é um serviço público”.

Mais do que uma crítica, o post trouxe o que foi entendido por analistas como uma clara ameaça: “Os Estados Unidos responsabilizarão todos aqueles que colaborarem ou facilitarem condutas sancionadas”, diz a nota.

A Embaixada dos EUA no Brasil compartilhou a publicação, amplificando sua repercussão e deixando claro que a mensagem tem o respaldo oficial do governo norte-americano, atualmente sob comando do presidente Donald Trump, reeleito em 2024. Trata-se de uma escalada diplomática com poucos precedentes na história recente das relações Brasil-EUA.

 

O pano de fundo da tensão é a inclusão de Moraes na lista de sanções da Lei Magnitsky — uma legislação americana que permite punir estrangeiros acusados de graves violações de direitos humanos e corrupção sistêmica. A sanção aplicada a Moraes impõe congelamento de bens nos EUA, proibição de entrada no país e bloqueio de transações com cidadãos ou empresas norte-americanas.

Em outras palavras, uma espécie de “pena de morte financeira”, como descrevem especialistas em direito internacional. A publicação desta segunda-feira reforça a disposição dos EUA em aplicar esse tipo de pressão a outros membros do sistema de justiça brasileiro.

 

A medida contra Bolsonaro, por sua vez, foi motivada por postagens feitas em redes sociais ligadas ao ex-presidente, mesmo após ele ser proibido de usar plataformas digitais.

Em especial, uma publicação do senador Flávio Bolsonaro, filho do ex-presidente, no domingo (3), repercutiu manifestações em apoio ao pai realizadas em várias cidades do país. Segundo Moraes, a ação representou violação clara das restrições impostas desde julho, como uso de tornozeleira eletrônica, confinamento parcial e bloqueio de redes sociais, inclusive por meio de terceiros.

“Trata-se de reiterada prática de desrespeito às decisões judiciais, com uso indevido de perfis alheios para continuar difundindo mensagens que atacam o STF e incitam a população contra o regime democrático”, escreveu Moraes em sua decisão. Ele apontou que a postagem de Flávio Bolsonaro foi removida posteriormente, em uma tentativa, segundo o ministro, de ocultar a infração.

Com base nisso, decretou a prisão domiciliar e autorizou a Polícia Federal a apreender celulares e dispositivos da residência do ex-presidente, o que foi cumprido ainda na noite de segunda-feira.

 

A resposta do governo dos EUA, no entanto, abre uma nova frente de tensão internacional, com possíveis impactos em acordos bilaterais, cooperação jurídica e até em temas comerciais.

A ameaça de sanções a autoridades brasileiras que apoiarem as decisões do STF coloca Brasília diante de um dilema diplomático: manter a autonomia do Judiciário ou ceder a pressões externas num momento de instabilidade política. Enquanto isso, Bolsonaro, cada vez mais isolado judicialmente, passa a ser visto por seus apoiadores como um símbolo de resistência, o que pode inflamar ainda mais os ânimos nas ruas e nas redes.

 

O governo brasileiro ainda não se manifestou oficialmente sobre o post do Departamento de Estado, mas fontes do Itamaraty indicam que uma resposta está sendo preparada nos bastidores. Em paralelo, membros do Congresso e do Judiciário discutem os desdobramentos da escalada de tensões.

Se por um lado a decisão de Moraes reforça o enfrentamento à desinformação e à tentativa de ruptura democrática, por outro, a reação dos EUA inaugura um capítulo perigoso de interferência internacional nas instituições brasileiras. O próximo passo será decisivo para o equilíbrio entre soberania, justiça e diplomacia.