UM MOVIMENTO INUSITADO QUE MEXEU COM OS NERVOS DE BRASÍLIA
A primeira reação foi de perplexidade. Por que Trump, que nem ocupa oficialmente a Casa Branca, enviaria uma carta formal com peso diplomático? E mais: por que atrelar uma decisão econômica a questões políticas internas do Brasil?
Segundo o documento, o republicano justifica a imposição da nova tarifa como uma retaliação a uma suposta perseguição judicial contra Jair Bolsonaro, ex-presidente e seu aliado declarado.
Mas Lula não deixou passar. A resposta veio em tom firme, quase imediato. Em postagem nas redes sociais, o presidente foi direto: “Qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica.
A CARTA, A REAÇÃO E A LEI QUE VAI GUIAR A RESPOSTA
A chamada Lei da Reciprocidade Econômica, aprovada pelo Congresso Nacional, autoriza o Brasil a reagir formalmente e com medidas comerciais proporcionais diante de ações unilaterais de outros países.
É a legislação que o governo Lula agora aciona para proteger os interesses nacionais e demonstrar que o Brasil não aceitará imposições externas sem reação.
COMÉRCIO EM XEQUE: O NÚMERO QUE TRUMP NÃO CONTOU
Lula também rebateu com veemência as alegações de Trump sobre prejuízos comerciais norte-americanos. O presidente brasileiro expôs dados oficiais do próprio governo dos EUA, que mostram o oposto do que afirma o bilionário republicano: ao longo dos últimos 15 anos, os EUA acumularam um superávit de US$ 410 bilhões no comércio com o Brasil.
Em 2024, por exemplo, o Brasil exportou US$ 40,3 bilhões em produtos aos Estados Unidos, enquanto importou US$ 40,6 bilhões.
“O déficit norte-americano simplesmente não existe. Trata-se de uma falácia que não resiste à análise dos números reais”, afirmou Lula, em comunicado oficial.
ALÉM DO COMÉRCIO: O ATAQUE À SOBERANIA BRASILEIRA
Mas o que talvez tenha causado mais indignação em Brasília foi a tentativa de Trump de se posicionar como crítico do sistema de Justiça brasileiro, usando a situação de Jair Bolsonaro como argumento para a retaliação econômica.
Lula não tergiversou: “O Brasil é um país soberano, com instituições independentes, e não aceitará ser tutelado por ninguém.
O presidente destacou que os processos enfrentados por Bolsonaro — que incluem tentativa de golpe e abuso de poder — estão sob a responsabilidade do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), instituições autônomas que atuam conforme a Constituição.
UM EMBATE QUE AINDA VAI RENDER EFEITOS
Nos bastidores do Itamaraty, o clima é de cautela e prontidão. A ordem de Lula foi clara: acionar imediatamente os dispositivos legais para responder de forma proporcional.
Fontes ligadas ao Ministério da Fazenda já analisam possíveis sanções ou sobretaxas contra produtos norte-americanos.
E AGORA? OS CENÁRIOS POSSÍVEIS
Com eleições norte-americanas se aproximando e Trump ganhando protagonismo, analistas enxergam a carta como mais uma jogada de campanha do republicano — uma tentativa de acenar à sua base conservadora e ao lobby industrial. Porém, a movimentação arrisca uma deterioração das relações entre dois gigantes comerciais.
E enquanto o suspense sobre a resposta brasileira se mantém no ar, uma certeza se consolida: o Brasil não ficará calado.