BOMBA: Após pedido de impeachment, Moraes acaba de sa…Ver mais

Em mais um capítulo da crescente tensão entre o Judiciário e aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) protocolou nesta quarta-feira (23) um pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A iniciativa foi motivada pelas medidas cautelares impostas por Moraes, que restringem de forma rigorosa a liberdade de comunicação do ex-chefe do Executivo.

No documento entregue ao Senado Federal, Flávio acusa Moraes de “abuso de autoridade” e afirma que o magistrado ultrapassou os limites constitucionais ao impedir que Bolsonaro se manifeste publicamente — inclusive por meio de terceiros. A decisão, segundo ele, fere direitos fundamentais garantidos pela Constituição, como a liberdade de expressão e o livre acesso à informação.
“Ao calar Jair Messias Bolsonaro por completo, proibindo-o de se manifestar direta ou indiretamente nas redes sociais, implicitamente proibindo-o de conceder entrevistas, declarações públicas e postagens em canais de terceiros — sob pena de prisão — o Ministro Alexandre de Moraes não apenas viola o direito individual do ex-presidente à livre manifestação, mas suprime o direito coletivo da população de ter acesso às suas ideias, discursos e posicionamentos”, argumenta o senador no pedido.

Liberdade de expressão ou risco à democracia?
A decisão de Moraes que motivou o pedido de impeachment faz parte das investigações sobre tentativa de golpe de Estado e ataques ao sistema eleitoral brasileiro. O ministro impôs uma série de restrições a Bolsonaro após detectar o que classificou como riscos à ordem democrática e indícios de articulação para deslegitimar as instituições republicanas.

Entre as medidas, está a proibição do ex-presidente de realizar qualquer manifestação pública, seja por meio das redes sociais, entrevistas, ou mesmo por declarações transmitidas por apoiadores. A decisão inclui ainda a possibilidade de prisão em caso de descumprimento.

Para Flávio, trata-se de uma violação direta ao Estado Democrático de Direito. “A medida adotada restringe a arena pública de debate, desequilibra o ambiente democrático e fere frontalmente o entendimento doutrinário e jurisprudencial firmado pela própria Corte a que o Ministro pertence”, escreve o senador.

O que diz a Constituição?

Especialistas em Direito Constitucional ouvidos pela reportagem apontam que o caso levanta uma delicada discussão entre os limites da liberdade de expressão e a preservação das instituições democráticas.

Para uns, as decisões de Moraes são justificadas diante da gravidade das ações investigadas. Para outros, trata-se de um precedente perigoso.

“O STF age com base em fatos concretos e em investigações em curso. Não é uma decisão tomada no vácuo. No entanto, qualquer limitação à liberdade de expressão precisa ser proporcional, temporária e claramente justificada.

Senão, corre-se o risco de o remédio se tornar mais nocivo que a doença”, avalia a jurista Carla Vieira, professora de Direito na Universidade de Brasília (UnB).

Cenário político em ebulição
A ação de Flávio Bolsonaro acontece em meio a um cenário de crescente embate institucional. Aliados do ex-presidente têm intensificado o discurso contra o Supremo Tribunal Federal e defendem uma “frequente revisão” dos poderes da Corte.

Por outro lado, o STF se mantém firme em sua atuação nos processos relacionados ao 8 de Janeiro e à tentativa de ruptura democrática.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que tem a prerrogativa de dar andamento ou arquivar pedidos de impeachment de ministros do STF, ainda não se manifestou publicamente sobre o caso.

Internamente, porém, o clima é de cautela. Nos bastidores, senadores avaliam que o pedido tem mais valor simbólico e político do que real viabilidade de prosperar.

Reação do Supremo
Até o momento, o ministro Alexandre de Moraes não comentou o pedido formal de impeachment. Fontes próximas ao STF indicam que a Corte considera a medida uma tentativa de “intimidação política”, e que decisões tomadas no curso de processos legais devem ser respeitadas até que sejam revertidas por instâncias superiores ou pelo próprio colegiado.

Bolsonaro em silêncio — forçado ou estratégico?

Desde que foi impedido judicialmente de se manifestar, Jair Bolsonaro tem mantido uma postura discreta, evitando aparições públicas e limitando-se a compromissos internos com aliados. Para analistas políticos, o silêncio do ex-presidente pode ser parte de uma estratégia de contenção de danos — ou resultado direto do cerco jurídico em torno de seu nome.

Ainda que o pedido de impeachment de Moraes enfrente obstáculos legais e políticos, ele acirra o clima já inflamado entre Judiciário e bolsonarismo. E sinaliza que a batalha em torno da liberdade de expressão, dos limites institucionais e do protagonismo dos poderes está longe de terminar.