Em uma noite carregada de tensão e emoção, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) protagonizou um dos discursos mais intensos e simbólicos desde o agravamento da situação judicial de seu marido, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Durante uma cerimônia religiosa na Catedral da Bênção, em Taguatinga (DF), nesta quinta-feira (24), Michelle ergueu a voz em defesa de Bolsonaro, criticou o que classificou como “censura prévia” e reafirmou sua fé em um “Deus que está no controle de todas as coisas”.
Visivelmente abatido, recusou pedidos de fotos e, ao ser abordado por jornalistas, limitou-se a uma frase curta e reveladora: “Eu não vou falar, pelo amor de Deus”.
“Marido, te amo”
A comoção da noite ficou por conta de Michelle, que conduziu parte da cerimônia e aproveitou o momento para fazer um desabafo que soou mais político do que religioso.
Em seu discurso, Michelle não escondeu a indignação com a situação atual do marido, que desde a última sexta-feira (18) usa tornozeleira eletrônica por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do STF. A medida é parte de uma investigação que apura supostos crimes de coação no curso do processo, obstrução de Justiça e ameaça à soberania nacional.
O ex-presidente também está sujeito a recolhimento domiciliar noturno — das 19h às 6h — incluindo finais de semana e feriados. Além disso, ele está proibido de usar redes sociais, de manter contato com outros investigados e de frequentar embaixadas ou ter qualquer tipo de comunicação com diplomatas estrangeiros.
“Estamos de pé pela oração dos santos”
Com voz firme e discurso marcado por um forte tom religioso, Michelle buscou aproximar-se da base evangélica que historicamente apoiou Bolsonaro. “Nós sabemos que só estamos de pé pela oração de cada um de vocês, a oração dos santos que amam essa nação”, disse, em referência à resistência do casal diante dos avanços da Justiça.
Embora a fala tenha ocorrido dentro de um templo religioso, o conteúdo teve forte carga política e simbólica. A imagem de Michelle como defensora da liberdade de expressão e da fé cristã tem ganhado força nos bastidores do PL, especialmente num momento em que o futuro político de Jair Bolsonaro se vê ameaçado por restrições judiciais que podem comprometer sua presença em atos públicos, eventos partidários e até mesmo articulações eleitorais.
Silêncio estratégico?
A ausência de palavras por parte de Bolsonaro, em um momento tão delicado, levantou questionamentos sobre sua estratégia de comunicação diante das recentes decisões do Supremo. Alguns analistas apontam que o silêncio pode ser uma forma de minimizar riscos judiciais, enquanto outros enxergam um ex-presidente fragilizado e isolado politicamente.
Mesmo calado, sua presença no culto foi interpretada como um gesto de resistência e busca por apoio espiritual e popular. O entorno da catedral reuniu dezenas de fiéis que oraram pelo ex-presidente e demonstraram solidariedade com faixas, camisetas e bandeiras do Brasil.
O papel crescente de Michelle
A noite na Catedral da Bênção deixou claro que, para o núcleo bolsonarista, fé e política continuam entrelaçadas. Enquanto o ex-presidente se recolhe, sob a vigilância de uma tornozeleira e das decisões do Supremo, Michelle emerge como a voz que ecoa as angústias e esperanças de seus apoiadores.
E, ao que tudo indica, o embate entre o bolsonarismo e o STF ainda está longe de um desfecho. Até lá, discursos como o de Michelle seguirão desempenhando papel crucial no campo simbólico e político da direita brasileira.