Um gesto silencioso, mas profundamente simbólico, que emocionou o mundo e rompeu barreiras dentro do Vaticano.
Na manhã em que milhares se despediam do Papa emérito Bento XVI na Basílica de São Pedro, uma figura discreta chamou a atenção ao quebrar o rígido protocolo do Vaticano.
Amparada por um segurança, a religiosa chorava silenciosamente enquanto encarava aquele que não era apenas o líder espiritual da Igreja Católica, mas um amigo pessoal.
Quem é a freira que emocionou Roma?
Geneviève Jeanningros não é uma freira qualquer. Membro da Congregação das Pequenas Irmãs de Jesus, ela vive à margem – não apenas geograficamente, em um trailer na periferia de Roma, mas também em sua atuação missionária. Aos 81 anos, dedica sua vida a acolher pessoas em situação de vulnerabilidade, incluindo a comunidade transexual da capital italiana – uma missão que poucos ousam assumir dentro da estrutura tradicional da Igreja.
Mais do que uma religiosa, Geneviève é uma mulher de coragem. Ela é sobrinha de Léonie Duquet, freira francesa desaparecida na Argentina durante a ditadura militar. Léonie foi sequestrada em 1977 em Buenos Aires, em meio ao regime de Jorge Videla, e tornou-se símbolo da repressão violenta daquele período.
Uma amizade que nasceu da dor e floresceu em cartas
Assim que Jorge Mario Bergoglio foi eleito Papa, Geneviève escreveu uma carta relembrando a história da tia desaparecida na Argentina.
A resposta veio – e com ela, nasceu uma correspondência frequente, marcada por afeto, espiritualidade e compromisso social.
O laço entre os dois se fortaleceu ao longo dos anos. Geneviève levou pessoas assistidas por seu projeto ao Vaticano. Um dos episódios mais marcantes foi quando ela conduziu os familiares de um médico americano homossexual, falecido durante a pandemia de Covid-19, até Francisco.
Um ato simbólico que ecoa dentro e fora da Igreja
A cena da freira se aproximando do caixão emocionou não apenas os fiéis, mas também religiosos e observadores do Vaticano.
Ao romper o protocolo, ela não desrespeitou a liturgia — ela a humanizou. Seu luto foi um ato de amor e reconhecimento àquele que, mesmo no mais alto cargo da Igreja, nunca deixou de escutar as vozes que vinham das periferias do mundo.
Ela se despediu do amigo, mas seu gesto ficou como mensagem viva — um lembrete de que os caminhos da santidade muitas vezes passam por trailers na periferia, por cartas pessoais e pelas lágrimas de quem se permite sentir.